Conheça um pouco mais sobre Mindfulness.
Em um mundo em que a velocidade das mudanças é vertiginosa, é comum o empresário não conseguir prever com certeza como vão estar os negócios dentro de poucos meses. À frente da organização moderna, o gestor bem-sucedido é aquele capaz de lidar com a complexidade, antever situações adversas e estar fisicamente e emocionalmente pronto para entrar em ação 24 horas por dia. Para tanto, precisa de disciplina e muita concentração. É nesse contexto que surgem novas técnicas para formação de executivos, dentre elas o Mindfulness voltado para o ambiente organizacional. Na entrevista abaixo, os consultores Reinaldo Rachid Jr. e Ana Elisa Murta (*) contam como o método chegou ao Brasil e tem ajudado empresas e administradores a sobreviverem em um ambiente econômico cada vez mais vulnerável e incerto.
O que é Mindfulness?
A definição de Mindfulness em contextos organizacionais geralmente se manifesta em
torno de duas linhas distintas. Na primeira, as práticas derivadas do budismo são
implícitas ou explicitamente reconhecidas; na segunda, com base no paradigma
ocidental, enraizado na psicologia cognitiva, sem referência à prática meditativa
budista. Ambas descrevem Mindfulness como atenção plena ou como o oposto da falta
de atenção, e usa o termo para denotar um estado de alerta e consciência. Nosso foco
tem sido na atenção plena que tem como base o programa de Redução do Estresse com
base em Mindfulness (MBSR) criado por Kabat-Zinn e das abordagens da Terapia
Cognitiva Comportamental com base em Mindfulness desenvolvida por pesquisadores
da Universidade de Oxford, no Reino Unido. Nesses programas, os participantes
aprendem a prestar atenção aos pensamentos, sentimentos e impulsos através do uso
de diferentes técnicas de atenção plena e de exercícios de cognição.
Como a técnica se aplica à administração moderna e ao desenvolvimento de líderes e
gestores?
Os desafios globais atuais incluem a instabilidade política e econômica, a mudança
climática, o rápido aumento da globalização e a proliferação das mídias sociais. As
condições são cada vez mais paradoxais, com líderes expostos 24 horas por dia, 7 dias
por semana, em diversas redes relacionais e sistemas que são complexos e não
“simplesmente” complicados. Os líderes de hoje são demandados a desenvolver as
capacidades de se relacionar e trabalhar em rede e sujeitos a externalidades que
dificultam o planejamento e o controle dos seus resultados. Por exemplo, no Reino
Unido, a decisão de saída da União Europeia surpreendeu boa parte do mundo. No Brasil estamos vivendo situações similares, onde as empresas, para sobreviver, precisam replanejar, reorganizar e redirecionar sua atuação a todo tempo. É diferente dos tempos quem que era possível predizer tendências e resultados com certa precisão. Hoje, o líder precisa ter outras competências que o permitam atuar em um contexto de vulnerabilidade, em uma realidade incerta, complexa e ao mesmo tempo ambígua – o mundo “VUCA”, como tem sido chamado. É nesse contexto que surgem as abordagens de Mindfulness para o ambiente de trabalho, como uma forma de apoiar o
desenvolvimento das capacidades necessárias para liderar na atualidade.
Por favor, dê alguns exemplos.
O modelo usado sugere que existem três “meta-capacidades” fundamentais e de ordem
superior. São elas: capacidade metacognitiva (a capacidade de observar os
pensamentos, sentimentos e sensações do momento) e as atitudes de permissão e de
curiosidade. O desenvolvimento dessas capacidades cria um “espaço” que permite que
líderes mais conscientes respondam – ao invés de reagirem – a eventos no momento em
que eles surgem, ou seja, com a mesma velocidade e eficiência necessárias no mundo
atual. Este espaço, por sua vez, permite uma gama de habilidades cognitivas e
emocionais, como foco, regulação emocional, empatia, adaptabilidade e tomada de
perspectiva, que são vitais para a liderança de sucesso hoje. A aplicação dessas
habilidades resulta em melhorias nas capacidades de resiliência, colaboração e liderança em complexidade.
Quais são as principais competências de um líder mindful?
Estudos recentes conduzidos com líderes seniores que realizaram o programa de oito
semanas apontam que aqueles que praticaram as técnicas formais de Mindfulness
durante dez minutos ou mais por dia experimentaram um aumento da produtividade,
da criatividade, da percepção da realidade e empatia pelo outro. A aplicação dessas
habilidades resulta em melhorias nas capacidades de resiliência, colaboração e liderança efetiva, se tornando líderes atentos às necessidades da gestão e das pessoas. Mas veja, a prática constante das técnicas de atenção plena é fundamental nesse processo, pois requer uma mudança de comportamento, necessitando do envolvimento daqueles que desejam desenvolver essas habilidades.
Como isso afeta a gestão e os resultados da empresa?
Estudos indicam que o método tem resultado satisfatório para o público em geral, pois
também reduz a ansiedade, depressão, doenças que estão presentes dentro das
organizações. Quanto maior a pressão para resultado, mais pessoas estão ficando
doentes, aumentando o absenteísmo. Retrabalho e a reincidência de problemas muitas
vezes ocorrem pois não se coloca a devida atenção para a solução. Percebemos um novo fator presente nas organizações que é o presenteísmo, o estar apenas de corpo
presente, cumprindo tarefas mecânicas sem entusiasmo, não sendo capaz de perceber
como a sua atividade afeta o resultado do negócio como um todo.
Quais as diferenças do programa de Mindfulness e o coaching ou outras técnicas de formação de gestores atualmente em voga?
Coaching é um processo em que o profissional vai ser estimulado a quebrar
determinados padrões e ampliar sua autoconfiança a partir de um aprendizado
contínuo. O trabalho é bem direcionado a uma mudança específica de comportamento
para atender um objetivo pessoal e organizacional. Dentro de programa de coaching
pode ser interessante que o profissional trabalhe a atenção plena.
Como o empresário pode identificar a necessidade de desenvolvimento do
Mindfulness na sua organização?
Quando a empresa precisa se mover rapidamente e percebe que a liderança não está
conseguindo engajar seu time de forma efetiva para executar seus planos de ação e
gerar resultados. As causas desses problemas podem estar na baixa efetividade da
liderança, na falta da capacidade de se perceber e também perceber o outro, suas
motivações e necessidades de desenvolvimento. Precisamos lembrar que o time de
operação ou do contato direto com o cliente é quem realmente conhece 100% dos
problemas de uma organização. A agenda do líder é filtrada para aquilo que ele
considera o mais importante. Vamos imaginar uma empresa que precisa aumentar suas vendas, mas as ações que estão sendo postas em prática mensalmente não têm gerado o resultado esperado. Muitas vezes isso não aconteceu porque há diferentes visões do marketing com a área de vendas, pois os envolvidos olham apenas para seu setor e não se aprofundam no ambiente onde as informações estão disponíveis. As pessoas simplesmente não enxergam situações diferentes daquelas que estão acostumadas a ver. É o caso de um gerente que vai todo dia no seu setor e a rotina do dia a dia compromete sua capacidade de percepção, quando grandes oportunidades de melhoria passam desapercebidas. A apoio externo auxilia o empresário no desenvolvimento dessa capacidade de atenção e a habilidade de perceber continuamente o ambiente, ampliando seu senso de responsabilidade e se tornando um agente propulsor de mudanças positivas.
E quais os desafios para a empresa moderna?
Quando pensamos no mercado competitivo, o que diferencia as estratégias
empresariais é a capacidade de compreender o desafio e a necessidade de mudança e
de mobilizar a equipe para se chegar aos objetivos. Isso só é possível com grandes
lideranças à frente do negócio. Muitas vezes, a solução – está diante dos olhos de quem
comanda a empresa, mas passa desapercebida, pois assumem muito mais uma postura
de reação ao ambiente externo do que de criação de valor no ambiente interno. Líderes e gestores, com metas desafiadoras, se beneficiam de soluções que passam pelo treinamento da atenção plena que irão provoca o olhar e estimular a capacidade de experimentar novas abordagens.
Ainda sobre o Mindfulness voltado para a formação de executivos, como está a prática de empresas no mercado?
Apesar de já ser uma prática comum em outros países, é uma área muito nova no Brasil, onde poucos especialistas têm essa capacitação. Existem profissionais que trabalham a atenção plena no nível individual, mas totalmente desconectados da realidade do ambiente organizacional. Os bons resultados que vem sendo apresentados pelas pesquisas estão diretamente relacionados em medida equivalente a correta aplicação do método e à adesão dos participantes, que devem estar cientes e dispostos a dedicar alguns minutos do seu dia-a-dia para a prática. É importante apresentar o método com a propriedade de profissionais capacitados e experientes em gestão organizacional, de forma transparente e com práticas vivenciais.
Pessoalmente, por quê vocês se especializaram em mindfulness para empresas?
Reinaldo Rachid: Já desenvolvi inúmeros projetos na área de gestão em várias
organizações. É comum associar o potencial do resultado que uma boa gestão pode
gerar à capacidade dos líderes engajar seu time para aplicar de forma eficaz as
metodologias implementadas. Conheci as técnicas de atenção plena a partir da busca
de um autoconhecimento profundo, no campo pessoal, quando percebi a oportunidade
de levar esses conceitos e práticas para o desenvolvimento de líderes e gestores.
Ana Elisa Murta: Trabalhei em grandes empresas de consultoria e de educação
executiva. Sempre tive muito interesse pelas questões relacionadas ao desenvolvimento da liderança, e esse foi inclusive objeto da minha pesquisa acadêmica. Entre 2016 e 2018 morei na Inglaterra e pude assistir de perto o desenvolvimento das abordagens de mindfulness na sociedade e nas organizações, como no Sistema Público de Saúde Inglês (NHS), no Parlamento e empresas dos mais diversos ramos, como financeiras, engenharia, farmacêuticas, tecnologia, etc. Fiquei muito entusiasmada com os resultados e resolvi fazer a capacitação no Centro de Mindfulness da Universidade de Oxford, no Reino Unido. De volta ao Brasil, estamos aplicando essas técnicas nas organizações e para indivíduos que estejam interessados em uma forma de atuar no mundo mais consciente.
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