Autenticidade para renovar
Durante essa crise, vimos o poder do propósito na união de forças de trabalho. As
organizações que já tinham um propósito forte e duradouro se fortaleceram e se
uniram. No âmbito da saúde, vemos muitas organizações cujo objetivo final não é
somente produzir drogas, mas realmente curar pacientes. Para criar esse
ambiente de inovação e serviço global, observamos empresas colaborando com os
concorrentes nos tratamentos, cooperando com os governos e até distribuindo
suprimentos.
As organizações que ainda não encontraram seu propósito criaram um objetivo
único: a necessidade de sobreviver a essa crise. Isso está funcionando por
enquanto, mas deixa um enorme risco quando a crise passa. Metaforicamente, são
organizações bonsai: estão plantadas num espaço raso e pequeno para se
assemelhar a uma réplica de uma árvore da natureza em miniatura, sendo
transformadas por um processo que simula os padrões de crescimento e estrutura
geral dos galhos da planta original. Como árvores que crescem livremente na
natureza, as organizações que se mantém renovadas, têm raízes profundas, com
crescimento constante e trocas de folhas e frutos, se adaptando às condições
ambientais.
O mais inteligente num cenário como esse é que as empresas continuem a manter
a sua relevância no mercado, buscando nas suas raízes descobrir seu propósito e
declará-lo. Simon Sinek escreveu o livro Comece com o Porquê? para explicar que
algumas organizações são capazes de nos inspirar, e outras não. Ele desenvolveu o
modelo do Círculo Dourado (Golden Circle) para sistematizar um novo método de
pensar, agir e comunicar (de dentro para fora) com o intuito de criar impacto no
mundo.
A comunicação das organizações e indivíduos é naturalmente feita de fora para
dentro, especialmente em função do período racional que vivemos. A explicação
começa no QUE eles fazem, usando características e benefícios para atrair o
consumidor e, algumas vezes, vai até COMO fazem, ou como se diferenciam do
resto. Por consequência, esperam um comportamento do consumidor, como uma
compra, um voto ou apoio. O problema é que isso não inspira a ação humana: fatos
e características fazem sentido racional, mas as pessoas não tomam decisões
puramente baseadas em elementos e números.
Líderes e organizações com a capacidade de inspirar pensam, atuam e se
comunicam de dentro para fora, começam pelo PORQUÊ, comunicando seu
propósito ou causa primeiro. Essa simples sequência na comunicação, quando
bem implementada, altera completamente a percepção das pessoas. O que
sentimos em relação a uma coisa ou alguém é mais poderoso do que o que
pensamos sobre ela.
Dessa forma, conseguimos entender a diferença entre um comprador recorrente
e o fiel. Repetir a compra significa que alguém está disposto a continuar a fazer
negócios com você, por causa do seu preço, uma característica ou algum tipo de
conveniência. Uma vez que essa conveniência não estiver mais disponível, o cliente
busca atender suas necessidades em outros lugares. A fidelidade do cliente passa
pela opção de sofrer algum tipo de inconveniência para continuar com você: vão
pagar mais, viajar mais, orgulhosamente defender sua marca, mesmo que seu
produto ou serviço seja mais caro ou esteja mais longe. Isso porque os clientes fiéis
entendem e compartilham da sua visão, também querem para o mundo o legado
que você busca deixar. Abordei o tema do comportamento do consumidor no
artigo anterior – Consumo Consciente.
“As pessoas não compram o que você faz, elas compram o porquê você faz.
Aquilo que você entrega é só uma prova da autenticidade do seu propósito.”
Simon Sinek
Definir um propósito sólido poderá guiar a organização e colocá-la como um
agente de transformação do mundo, sendo reconhecida como fonte de mudança
e conquistando embaixadores de suas causas, atraindo e retendo talentos para
tornar-se longeva. O propósito é também versátil: uma empresa pode usar o
propósito para transformar sua cultura organizacional ou definir a visão para
inspirar as pessoas. O PORQUÊ pode trazer clareza ao que é indefinido e tornar
tangível o que é abstrato.
O líder que traz o propósito como centro para direcionar a equipe, estimula as
pessoas a buscar caminhos para dar vida àquele propósito ao cumprir suas tarefas.
Quando todos são verdadeiramente envolvidos com uma noção maior de
propósito, mesmo em períodos de dificuldade, os colaboradores conseguem
encontrar oportunidades, soluções inovadoras, pois enxergam uma causa mais
elevada.
Nesse mundo em crise, os negócios não podem mais ser apenas negócios, tudo
agora é pessoal e autêntico: como nos comportamos, como operamos, como
governamos e como nos relacionamos com pessoas e comunidades. As empresas
competirão na confiança, na responsabilidade e na criação e manutenção de
relacionamentos profundos com seus stakeholders, enraizados em verdades e
valores compartilhados. A liderança do futuro é guiada por um propósito e passa a
colocar as pessoas no centro das principais decisões, capacitando-as em
habilidades mais humanas para fortalecer ou transformar suas organizações.