Artigo escrito por Isabela Sobreira para o blog www.wwwarpando.com
A pandemia vem antecipando mudanças que já estavam em curso – como o trabalho remoto, a educação a distância, a busca por sustentabilidade e a responsabilidade social por parte das empresas – outrora em ritmo lento. É inegável que o coronavírus se tornou um acelerador de futuros. Algumas dessas mudanças serão permanentes, com implicações profundas na economia, sociedade, política, ambiente e ciência.
Vida 3.0, Sociedade 5.0, 4ª e/ou 5ª Revolução Industrial, singularidade, evolução exponencial de tecnologias e sua fusão com o ser humano, mindset ágil.. Nos últimos anos, vínhamos buscando aprofundar o contexto do mundo VUCA (volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade – acrônimo que surgiu no vocabulário militar americano na década de 90 para traduzir os cenários instáveis e muitas vezes complexos dos campos de guerra) para entender e vislumbrar novas formas de pensar, agir e viver. As mudanças estavam mais embrionárias e talvez não fossem tão perceptíveis ainda, mas agora ganham novo sentido diante da revisão de valores provocada por uma crise sanitária sem precedentes para a geração atual.
Estamos vivenciando o chamado Encapsulamento 2.0, termo cunhado na década de 70 para explicar um maior período de tempo que as pessoas passavam dentro de casa, à medida que a tecnologia permitia atividades que antes só eram possíveis da porta para fora. Essa tendência expressa agora um comportamento mundial, oferecendo uma outra perspectiva do trabalho, das relações e da vida. E quando a pandemia passar, aqueles que encontraram outras formas, até mais eficazes, de trabalhar, aprender e viver tenderão a continuar neste novo padrão.
Ainda assim, uma grande parte vai tentar voltar para suas rotinas anteriores, com uma cautela premente em questões de saúde e hábitos adquiridos (alimentação, lar, trabalho, tecnologias e compras). O desejo pelo contato com o mundo externo se mistura com o receio da exposição, externando a simbiose entre o físico e o virtual, sendo este praticamente o único meio de tangibilizar as nossas experiências. Vemos a instalação da Low Touch Economy (economia de baixo contato), que explora os possíveis caminhos da nossa economia a partir do distanciamento.
Em algum momento, o caos que vivemos atualmente se dissipará, mas o mundo continuará mergulhado na tal da complexidade (o C do VUCA). O “novo normal” passa a ser representado por um ambiente onde as relações entre causa e efeito só são conhecidas após os fatos: consegue-se observar a direção que as coisas estão indo e a velocidade, mas não se consegue traçar a rota em detalhe antecipadamente, tendo que ajustar o caminho durante todo o trajeto.
Não se importar se o copo está meio cheio ou meio vazio: focar em enchê-lo!
Crises como essa têm uma trajetória altamente veloz e dinâmica, exigindo constante (re)formulação de planos e (re)modelagem mental das pessoas. Da incerteza inicial, damos lugar à descoberta e construção de sentido, seguidos de uma resposta à crise com planejamento e estratégias de recuperação, e depois, enfim, reflexão e aprendizado.
Arquimedes, o famoso matemático grego que inventou o método para calcular o π (pi), ao descobrir também o princípio da alavanca, disse: “Dê-me uma alavanca e um ponto de apoio, e eu moverei o mundo”. No contexto atual de adversidades, é preciso mover o ponto de apoio, intensificando o poder da alavanca, para capitalizar oportunidades que gerarão o impulso para mudar a realidade. Para a psicologia, regular o ponto de apoio é regular a atitude mental, com a qual geramos o poder de mudar internamente, remodelando como processamos o mundo. Direcionar a força mental para aceitar o processo de mudança e ter uma atitude positiva de olhar com curiosidade para o mundo novo, buscando novos padrões comportamentais é o que vai abrir espaço para gerar inovação.
As novas relações que estão ocorrendo hoje, a partir dos drivers do cenário atual, não dão margem a escolhas. Se até há pouco tempo as organizações não se desafiavam em busca da inovação, agora é questão de sobrevivência. Revisitar as principais mudanças é importante, sendo, porém, imperativo procurar os novos pontos de partida. A nova normalidade nascerá de novos hábitos fortalecidos, da percepção de continuidade e agilidade, avançando nos cenários mais distantes para onde podemos ir, fortalecendo nosso propósito e reconfigurando nossa estratégia, oferta de produtos, e a relação com nossos clientes.
O Novo Renascimento
2020 está sendo denominado como o ano de início do Novo Renascimento: do humanismo e das humanidades além do progresso tecnológico exponencial, no qual as habilidades humanas serão determinantes.
Fig. 1: O “homem neoluviano” – Gerd Leonhard
O primeiro Renascimento substituiu o dogma religioso pela curiosidade e criatividade humanas. Gerd Leonhard, futurista suíço, acredita que o segundo Renascimento ampliará a relevância humana, propósito, engajamento, relacionamentos, autorrealização e colaboração nesse novo mundo, onde a conectividade, eficiência, velocidade e produtividade deixa de ser um diferencial, passando a ser uma necessidade.
O papel de cada um de nós daqui para a frente na busca de um mundo melhor deixará um dos grandes legados deste momento: maior consciência e preocupação com o outro, trazendo significado para a expressão ‘o futuro do ser humano é ser humano’. Não se tinha registado até hoje um movimento global tão solidário como este, onde se põem de lado as divergências para um bem maior.
Organizações com propósitos sólidos e empáticos às necessidades da humanidade aumentam suas chances de prosperarem nesse novo Renascimento, juntamente com a ascensão de valores como colaboração, solidariedade e empatia.
Artigo escrito por Reinaldo Rachid
www.wwwarpando.com.br/post/a-colaboração-uma-competência-para-fortalecer-as-organizações