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Novos Profissionais: uma mudança de ‘emprego’ a cada 24 meses ou menos!

O grande desafio do Brasil é justamente fazer com que a educação acompanhe a revolução que vai varrer o mercado de trabalho nos próximos anos.

À luz de uma cultura de startups, fomentada pelo Vale do Silício, a nova geração cresceu com exemplos de sucesso.

À luz de uma cultura de startups, fomentada pelo Vale do Silício, a nova geração cresceu com exemplos de sucesso. (Reprodução)

Por Jose Antonio de Sousa Neto *
Isabela Sobreira **

As grandes empresas de 2025 ainda não nasceram. Impactante, não? A velocidade das inovações e disrupções cada vez mais ágeis vêm aumentando exponencialmente ao longo do tempo. Você já parou para pensar no quanto sua vida mudou nos últimos anos? Google Maps/Waze,Twitter, WhatsApp, AirBNB, Uber, Spotify/Deezer, Netflix são empresas/serviços que há 10 anos nem existiam.

Nesse cenário acelerado, BH desponta como celeiro de startups. A formação desse contexto / ambiente favorável ao desenvolvimento de negócios tecnológicos foi acelerado quando o Google optou pela cidade para instalar o seu primeiro centro de engenharia na América Latina. Esse pólo tecnológico progrediu também com a produção de conhecimento oriundo das instituições de ensino. São startups nascidas em BH: Rock Content, Sympla, Samba Tech, Beer or Coffee, Méliuz, dentre outras. Entidades de apoio como FIEMG Lab, Raja Valley, San Pedro Valley e Órbi compõem o ambiente de startups na cidade. No ranking 100 Open Startups Brasil 2017 Minas Gerais aparece com 27 empresas das quais 22 em BH.

À luz de uma cultura de startups, fomentada pelo Vale do Silício, a nova geração cresceu com exemplos de sucesso. Os estudantes de hoje, considerada geração millennial, comporão 75% da força de trabalho até 2025, já nascem “digitais” e são capazes de pensar de forma mais “disruptive” (inovadora, “fora da caixa”, com quebra de paradigmas). Conectados, engajados, impacientes e preocupados em mudar o mundo ao seu redor, essas pessoas não ficam “acomodadas” e buscam desenvolver suas realizações. Dessa forma, descartam empregos que não consideram tão interessantes e procuram conciliar gostos pessoais com a profissão.

Segundo pesquisa realizada pela Mind Miners e pelo CIP (Centro de Inteligência Padrão) com os chamados millennials, 49% dos entrevistados indicam que pretendem trocar de emprego em até dois anos, e outros 21%, entre 2 e 5 anos. Apenas 10% indicaram que jamais deixariam seu trabalho atual. “Essa geração cresceu tendo incorporado a ‘gameficação’, que tem como característica a idéia de passar de fase. Eles podem se sentir bem na empresa, mas tem a necessidade superar metas, mudar de função e sempre buscar desafios”, disse Jacques Meir, diretor de conteúdo do CIP.

Em pesquisas de fatores motivacionais realizadas por Reinaldo Rachid Jr*** da RAIDHO Consultoria, os mais citados são a possibilidade de empreender e inovar, evoluir de acordo com o propósito das empresas, fazer a diferença em projetos engajadores e aprendizado contínuo. Esses dados confirmam os anseios dos profissionais mais jovens, e acabam impactando naqueles que já estão com carreiras mais sólidas. Nas grandes lideranças de empresas atualmente, estes fatores passaram a ter mais peso na escolha do trabalho, ficando à frente até de ganhos financeiros, como por exemplo, salários e benefícios na sua visão tradicional de curto prazo.

O ex primeiro ministro britânico Gordon Brown, cujo mandato estendeu-se de 2007 a 2010, encomendou um estudo para identificar as tendências que impactariam o mercado de trabalho em nível mundial até 2050 e apurar quais profissões tenderiam a ganhar relevância. O levantamento, realizado e divulgado pela consultoria de tendências britânica Fast-Future em 2010, é um dos mais completos já feitos: coletou depoimentos de 486 especialistas em 58 países e chegou a 110 novas carreiras. “Grandes oportunidades de emprego estão surgindo em áreas antes inimagináveis”, diz Neil Jacobstein, presidente da Singularity University, também chamada de universidade do futuro, que funciona no campus da Nasa, a agência espacial americana, no Vale do Silício, na Califórnia.

O processo de educação e formação para o mercado de trabalho era claro até alguns anos: você estudava, entrava em uma faculdade, e com base no que aprendeu partia para um emprego. Mas isso mudou: existem cada vez mais variáveis promovendo a ruptura no modelo educacional tradicional, que já não garante mais nada. Segundo Jacobstein, da Singularity University, uma transição bem-sucedida de qualquer profissional passa irremediavelmente pela educação. O grande desafio do Brasil é justamente fazer com que a educação acompanhe a revolução que vai varrer o mercado de trabalho nos próximos anos.

Nesse mundo de fortes mudanças, as habilidades e competências necessárias anteriormente para alcançar o sucesso no mercado de trabalho também mudaram. O caminho também mudou – e talvez já nem haja apenas um caminho. Instituições de ensino superior são ambientes propícios para a criação de startups, mas não basta criar disciplinas de empreendedorismo para viabilizar novos negócios; é preciso muito esforço e oferecer novas formas de aprendizado.

Convivemos também e ainda com a antiga questão de como fazer para que trabalhos e pesquisas acadêmicas cruzem os portões e cheguem ao setor produtivo com maior agilidade e rapidez. “Até hoje, a academia não foi priorizada na busca por inovação pelas empresas, mas ambas as partes estão vendo que esse é o caminho a ser trilhado”, diz Ana Lúcia Torkomian, diretora do Fórum Nacional de Gestores de Inovação e Transferência de Tecnologia (Fortec). Buscar a resposta a esse questionamento torna-se mais urgente tendo em vista os desafios das transformações de mercado para suprir o volume necessário que mudará definitivamente o quadro de inovação do país.

A maioria das instituições está falhando na oferta e no fomento a questões ligadas ao empreendedorismo, de acordo com a pesquisa Empreendedorismo nas Universidades Brasileiras, realizada pelo Instituto Data Popular a pedido da Endeavor e do Sebrae. As faculdades devem seguir formando profissionais para atuar no mercado, na academia e no setor público, mas também incentivar e disponibilizar mecanismos para a geração de novos empreendedores, o que vem ao encontro deste novo perfil de trabalho com tendência de redução de postos tradicionais e aumento da procura por colaboradores mais versáteis. Sabem o porquê da tendência de uma mudança de “emprego” a cada 24 meses (ou menos)? É porque em um mundo cada vez mais e inexoravelmente conectado em rede todos nós estaremos cada vez mais trabalhando por projetos!

Apesar do crescente interesse dos alunos, pesquisas recentes revelam que a maior parte das IES não trabalha adequadamente a questão do empreendedorismo. Essa observação foi apontada pelo relatório da Global Enterpreneurship Monitor 2015. Especialistas ouvidos destacaram que a questão ‘educação e capacitação’ é o segundo maior problema para empreender no país, somente atrás de ‘políticas públicas’, com seu excesso de burocracia e alta carga tributária. Vários outros estudos apontam que o aluno precisa aprender fazendo, desde o ensino fundamental. Há uma percepção clara de fomentar o espírito empreendedor para que se possam transformar idéias em serviços e com isso gerar inovação. Entre as recomendações destacadas no relatório, os pesquisadores propuseram que o empreendedorismo seja trabalhado como disciplina transversal e esteja presente em todos os níveis educacionais, do básico ao superior, fazendo uso das tecnologias da informação (já existem escolas especializadas em pensamento computacional, construção criativa e pensamento multidisciplinar aplicado à resolução de problemas para o ensino fundamental, como a Mind Makers). O estudo destaca ainda a necessidade de fortalecer o que se chama de ecossistema empreendedor, formado, entre outros, por incubadoras, aceleradoras e laboratórios de fabricação digital, os fab labs. Os futuros profissionais que não perceberem isso não terão muitas oportunidades. É uma questão de sobrevivência. E isso se aplica também aos professores!

Para Marcus Quintella da FGV o tema empreendedorismo ainda não despontou de vez pelo fato de não ter conquistado o que chama de ‘graça acadêmica’. “O engenheiro é um empreendedor por natureza. E não tem nada na formação dele que o incentive; ele só vai estudar as matérias inerentes à engenharia”. De fato é o que ainda acontece na maioria dos cursos de graduação em engenharia.

Mas para empreender, criar startups ou mesmo ser metaforicamente uma “startup ambulante” o profissionalismo é uma condição fundamental. Para nós da EMGE que é uma instituição jesuíta de ensino é inevitável fazer uma conexão com o Magis Ignaciano. Vejam os leitores que uma em cada quatro startups fecha com menos de um ano de funcionamento, segundo informações da Fundação Dom Cabral. Um dos erros fatais das startups é não saber conciliar a inovação com a gestão. Uma boa gestão pode ser a chave para o negócio amadurecer e dar certo. Quem corrobora essa tese é Marcelo Lima, gerente de projetos do Lean Institute Brasil. Para ele, “os motivos de tantos fracassos são diversos, mas a causa raiz básica e principal é uma só: a má gestão”, que pode ser desmembrada em 3 fatores:

1.    A falta de foco dos fundadores do negócio, a falta de complementaridade e alinhamento tem como causa direta uma ausência de gestão adequada de recursos humanos.

2.    A falta de capital necessário está diretamente ligada a uma ausência da gestão financeira.

3.    A falta de clareza sobre os desafios que se tem para fazer a execução da gestão estratégia da startup está na origem da carência de uma gestão estratégica ideal, desde a elaboração à execução desta estratégia.

Na prática, habilidades e competências de melhoria de processos, gestão financeira e estratégica, desenvolvimento de pessoas e lideranças são a chave para catapultar as startups para o sucesso. É preciso que a gestão trabalhe, numa dimensão ligada à capacidade e habilidade dos colaboradores que compõem a startup, para adequar estas variáveis em todos os níveis do negócio. Sendo assim, deve-se buscar uma liderança que seja disseminadora do valor criado para aprender a realidade da startup, abraçar a filosofia das descobertas e trabalhar no aprendizado e desenvolvimento da multifuncionalidade de todos os agentes, para conseguir o alinhamento e a comunicação dos colaboradores. Em linhas gerais, ao estabelecer estratégias de gestão para estimular as pessoas que atuam no negócio e focar na liderança responsável e ativa, desenvolve-se um modelo de gestão mais eficiente para dar robustez à evolução de uma idéia em direção a um negócio de sucesso.

Considerando que estamos vivendo em um mundo VUCA (Volatile, Uncertain, Complex and Ambiguous – Volátil, Incerto, Complexo e Ambíguo), moldar indivíduos capazes de desenvolver equipes, propor soluções inovadoras e atuar em diferentes contextos pode ser o diferencial para formar os líderes de amanhã. Se a tecnologia está em constante mudança, a educação não pode ser diferente. É necessário buscar novos caminhos, novas metodologias e novas competências que, por sua vez, requerem uma nova maneira de aprender e ensinar. Nesse contexto, promover experiências de aprendizagem significativas e conectadas com a realidade dos alunos pode ser o melhor caminho para desenvolver as habilidades essenciais e necessárias aos futuros empreendedores de sucesso. Certamente um desafio para os alunos, mas também para os professores se não quiserem, como os mineiros gostam de dizer, “perder o bonde da história”!

 

*  Jose Antonio de Sousa Neto:  Professor da EMGE – Escola de Engenharia de Minas Gerais
**   Isabela Sobreira: Senior Partner da RAIDHO consultoria
*** Nossos agradecimentos a Reinaldo Rachid pela inspiração e apoio na elaboração deste texto

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