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Me Dita a Ação

Em meu último texto, eu abordei as competências importantes para os profissionais essa década atual e estabeleci uma conexão entre a inteligência emocional e a atenção plena, quando destaquei a relevância do “Estar atento ao momento presente, percebendo o gatilho que nos provoca emoções positivas e negativas, criando um espaço de resposta entre a ação e a reação. Ter consciência dos nossos estágios emocionais é o oposto de conter as emoções” para o desenvolvimento da inteligência emocional.

Mas onde está a nossa falta de atenção? Ou melhor, onde estamos
colocando nossa atenção? Quando estamos desconectados do momento presente, revivendo situações do passado ou ansiosos pelo futuro podemos dizer que há a falta da atenção. O momento presente pode ser aqueles minutos em que você está sentado à mesa com sua família, mas sua atenção está em uma preocupação com uma entrega de trabalho e não consegue ouvir o que foi dito. Outra forma comum da falta de atenção
acontece quando se está em uma reunião para a definição de pontos relevantes de um projeto e a pessoa passa grande parte do tempo respondendo e-mails e trocando mensagem com alguém que aguardava ansiosamente por sua resposta. Se pararmos para pensar, temos inúmeros exemplos, mesmo no cotidiano, como: o que eu almocei no último domingo? Claro que existem coisas que são tão rotineiras que não achamos
importante lembrar, como uma memória temporária. No entanto, cada vez mais questões importantes são negligenciadas pela falta de atenção.


Sabendo que a agilidade é importante, não podemos nos esquecer que estamos vivendo em contextos cada vez mais complexos e ambíguos, onde uma ação acertada no passado pode não ter tanto sucesso hoje. A agilidade mental é algo diferente de termos respostas prontas para tudo ou de querer fazer várias coisas simultaneamente. Nesse novo mundo, torna-se cada vez mais importante desenvolver o olhar atento,
em uma atitude de curiosidade para o que se apresenta no momento presente, quando podemos perceber tendências diferentes daquelas que estamos acostumados, nos conduzindo ao questionamento de comportamentos, à quebra de paradigmas e mesmo nos ajudando a perceber quando o certo é adaptar-se e não lutar contra algo que não temos influência.


A atenção plena nos ajuda na percepção do propósito ao qual se quer servir, do papel e responsabilidade, do lugar em que nos posicionamos diante da vida e das circunstâncias: vítimas ou protagonistas. Os nossos gatilhos emocionais nos colocam em uma atitude de defesa, muitas vezes necessárias à sobrevivência, como explica a neurociência: a amígdala cerebral é ativada quando percebemos que estamos em perigo como um sinal de alerta para nos defendermos. Perceber também que não somos o centro de tudo nos traz alívio para respirar e pensar com maior clareza.


Por que a inteligência emocional se conecta à atenção plena? Vou usar uma
explicação bem sucinta para definir a inteligência emocional como sendo o “reconhecimento” de uma emoção e seus efeitos gerados em cada um de nós. Será que conseguimos perceber atentamente essas emoções? Qual o nome da emoção que você está sentindo agora? Em algumas situações, essas emoções chegam como um furacão, ativando o piloto automático e sem perceber estamos dizendo coisas que podemos nos arrepender depois.


Em outras situações, reconhecemos o fato gerador que ativa uma emoção, mas por não compreender o fluxo emocional, deixamos acumular seus efeitos negativos, como nos exemplos que se seguem.


A raiva pode nos levar à perda do “controle” ou mesmo nos impossibilitar de nos relacionarmos de forma íntegra com o outro. O medo, quando não reconhecido, pode nos levar ao aprisionamento, dificultando a descoberta do novo ou nos impedindo de compartilhar nossas ideias por assumir que seremos julgados pelo outro.


Nesse olhar, percebo um grande desafio para as gerações Baby Boomer e X, ainda à frente de muitas decisões nas organizações. Recomendo assistir ao filme “The Mask You Live In” (disponível no catálogo Netflix) e observar os reflexos de uma cultura americana machista na nossa capacidade de reconhecer as emoções. Para os menos atentos, ainda se acredita que para ter sucesso é necessário apenas ser firme, duro e que não pode “se entregar” aos sentimentos, em um momento onde também se fala em empatia no relacionamento com o outro. Um outro filme bem divertido que nos ajuda a aprender sobre a expressão das emoções é o filme Divertida Mente.

Uma boa maneira de desenvolver a atenção plena consiste em você prestar atenção na própria respiração, algo que normalmente não estamos atentos, exatamente por nos ser muito natural e não nos requerer esforço para tal em condições normais de saúde. A meditação pode nos ajudar no estudo do pensamento e na percepção dos caminhos por onde nossa mente divaga a maior parte do tempo, quando se recomenda trazer gentilmente sua atenção para o momento presente, sendo a respiração uma excelente

âncora para tal. Esse estado nos permite conectar com a nossa “inner net”, o nosso dispositivo interno que pode nos conectar com o que sentimos. O que o seu Twitter interno ou “Heartbook” está gritando para você? Você o consegue escutar? A meditação pode ser percebida como um momento de conexão consigo mesmo, repondo energias importantes, abastecendo circuitos mentais que trarão maior clareza mental. Além disso, a neurociência tem demonstrado que esse estágio de conexão, alcançado por meio da prática da meditação, altera a plasticidade cerebral e estimula o cortéx pré-frontal. Ele tem um papel importante na auto regulação da amígdala cerebral, gerando um período de resposta, por mínimo que seja, entre a ação e a reação, nos permitindo reagir de forma inteligente diante de uma situação.

O desenvolvimento da atenção plena nos ajuda a sermos mais criativos, como descreve o autor Chad-Meng Tan, Engenheiro de Software que levou a prática do
Mindfulness para o Google, em seu livro “Busque dentro de você”. Para aprofundar, veja o vídeo do Talks at Google. Esse livro foi escrito com a colaboração do Daniel Goleman, professor autor do livro “inteligência emocional”, de 1995.


Ainda, o desenvolvimento da atenção plena pode nos ajudar no desenvolvimento da empatia, na comunicação mais assertiva, na colaboração e no aumento de nossa resiliência.


A compreensão dos nossos processos mentais e emocionais nos ajuda a
responder a seguinte questão: Que ações o coração me dita? Me dita a
ação!

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